A Sony pode enfrentar processos judiciais em todo o mundo pela demora em revelar uma violação da segurança na PlayStation Network, o que enfureceu jogadores de videogames e causou queda de quase 5 por cento nas ações da empresa em Tóquio, nesta quinta-feira.
A Sony desativou a rede em 19 de abril, depois de descobrir a violação, uma das maiores infiltrações online em bancos de dados já registrada. Mas foi apenas na terça-feira que a empresa informou que o sistema havia sido invadido e que dados dos usuários podiam ter sido roubados.
Nos Estados Unidos, diversos legisladores falaram sobre a invasão, na qual hackers roubaram nomes, endereços e possivelmente detalhes de cartões de crédito de 77 milhões de usuários. Um escritório de advocacia da Califórnia abriu processo em nome dos consumidores.
"Os jogadores estão furiosos pelo presidente-executivo não ter explicado a situação e os investidores estão decepcionados com a governança corporativa da empresa", disse Michael Wang, administrador de fundos internacionais da Prudential Financials, em Taipé, que detém ações da Sony.
A PlayStation Network, um serviço da Sony que gera receitas anuais estimadas em 500 milhões de dólares, oferece acesso online a jogos, filmes e programas de TV. Noventa por cento de seus usuários afirmam que estão baseados nos Estados Unidos ou Europa.
Larry Ponemon, fundador e presidente do Ponemon Institute, disse que o roubo poderia custar mais de 1,5 bilhão de dólares à Sony, equivalente a uma média de 20 dólares para cada um dos 77 milhões de usuários cujos dados podem ter sido comprometidos. A empresa de Ponemon se especializa em proteger informações armazenadas em redes de computadores.
Analistas disseram que pessoas que planejam adquirir um console de videogame podem optar pelo Xbox, da Microsoft, que conta com uma popular rede online.
"Estou indignado por minhas informações pessoais terem sido acessadas por hackers", disse Rich Chiang, usuário do PlayStation e Xbox em Xangai.
Especialistas em segurança dizem que a Sony terá de responder pela perda de negócios, bem como pelos danos à sua marca, quando computar o custo do incidente. Outras despesas relacionadas incluiriam a notificação dos clientes quanto ao ataque e a contratação de especialistas para reparar a rede.
A Sony afirmou que a demora em notificar o público foi necessária para a realização de uma investigação forense, mas o caso está rapidamente se tornando um pesadelo de relações públicas semelhante ao da resposta demorada da Toyota Motor relacionada a um recall gigantesco de veículos no ano passado, o que alimenta as críticas à falta de transparência das grandes empresas japonesas.
Nem Howard Stringer, o presidente-executivo da Sony, e nem Kazuo Hirai, que foi indicado como segundo em comando da empresa no mês passado depois de comandar a criação dos serviços de rede da companhia, comentaram o assunto publicamente.
As ações da Sony fecharam em queda de 4,5 por cento, depois de acumularem perdas de mais de cinco por cento em dado momento, enquanto o mercado japonês subiu 1,6 por cento. A queda acumulada da empresa esta semana já atinge os 8 por cento.
Alguns administradores de fundos afirmaram que o impacto pode ser contido. "As ações da Sony já atingiram seu ponto mais baixo desde o terremoto (no Japão em março), e por isso creio que os riscos adicionais de queda sejam limitados. Os investidores que compram Sony estão apostando no crescimento do PlayStation. Os adeptos do videogame em geral não deixam de jogar devido a apenas um incidente", disse Wang.
A Sony vem lutando há anos para combater as atividades dos hackers que formam certa proporção da base de fãs do PlayStation.
No começo do mês, o site de fãs de videogame PlayStation Lifestyle informou que um grupo que se denomina Anonymous havia conduzido ataques contra páginas e serviços online da Sony, como vingança contra os esforços da empresa para reprimir os hackers.
"A estratégia da Sony para a defesa de sua propriedade intelectual não foi muito sutil e deflagrou a 'opção nuclear' por parte daqueles contra os quais ela era dirigida", disse Phil Lieberman, especialista em segurança na computação, fundador e presidente-executivo da Lieberman Software.